Quando o médico fala pela primeira vez sobre alergia alimentar, a vida muda. Uma comida que era normal, como leite, pão ou ovo, de repente se torna um perigo. Para muitos pais, é o começo de algo novo, cheio de perguntas, mudanças e, às vezes, de receio.
Não é só mudar o cardápio. É preciso mudar costumes, arrumar a cozinha, avisar a família, conversar com a escola e entender os sinais do corpo do filho, tudo ao mesmo tempo. A notícia pode assustar, mas com informação certa e ajuda, dá para seguir em frente com mais segurança e tranquilidade. Este texto quer ser um guia claro e verdadeiro para quem está começando essa jornada.
O que é, de verdade, uma alergia alimentar?
Alergias alimentares acontecem quando o corpo reage de forma exagerada a certas proteínas que existem em alguns alimentos. É diferente de intolerância, que costuma dar problemas na digestão. A alergia pode causar reações leves ou muito graves, como a anafilaxia.
Nas crianças, os alimentos que mais causam alergia são: leite de vaca, ovo, trigo, soja, amendoim, outras castanhas, peixes e frutos do mar. Os sintomas podem aparecer logo ou algumas horas depois de comer, e podem ser desde coceira e vômito até falta de ar e chiado no peito.
Como é feito o diagnóstico e por que ele pode demorar?
Identificar uma alergia alimentar é um processo que leva tempo e requer uma análise cuidadosa. Os médicos geralmente combinam o histórico de saúde da criança, exames específicos para alergias (na pele ou no sangue) e a chamada dieta de exclusão, que consiste em retirar e depois reintroduzir certos alimentos para observar as reações. A participação dos pais é muito importante, pois eles precisam descrever os sintomas em detalhes e anotar o que a criança come.
Conseguir um diagnóstico exato pode demorar porque, às vezes, os sinais da alergia são leves ou aparecem de vez em quando, e podem até parecer outras doenças comuns em crianças, como problemas de refluxo ou cólicas. Por isso, é essencial que os pediatras e os especialistas em alergia trabalhem juntos, com a ajuda dos pais, para encontrar um padrão e descobrir qual alimento está causando a reação.
Em resumo, diagnosticar uma alergia alimentar exige paciência e uma equipe trabalhando em conjunto. Ao juntar as informações sobre a saúde da criança, os resultados dos exames e a observação das reações aos alimentos na dieta, com a atenção dos pais, os médicos conseguem descobrir a causa da alergia e indicar o tratamento mais adequado.
O impacto emocional da alergia alimentar na família
Não é só a criança que sofre — os pais também. A alimentação fora de casa vira um campo minado, a mochila da escola ganha etiquetas e instruções especiais, e a ansiedade toma conta de aniversários e eventos sociais.
É comum os pais desenvolverem hiper-vigilância, o que pode ser emocionalmente exaustivo. Por isso, é fundamental buscar acolhimento, seja em grupos de apoio, psicoterapia ou trocas com outras famílias que vivem a mesma realidade.
APLV: um dos diagnósticos mais comuns na infância
Entre as alergias mais frequentes nos primeiros anos de vida está a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). Ela afeta bebês alimentados com fórmulas infantis, mas também pode se manifestar em crianças amamentadas exclusivamente, já que proteínas do leite consumidas pela mãe passam para o leite materno.
Os sintomas variam: podem ser digestivos (diarreia, sangue nas fezes), dermatológicos (eczema, coceiras) ou respiratórios (chiado, tosse persistente). O diagnóstico pode ser confuso, e muitas vezes pais ficam perdidos tentando entender o que está acontecendo.
Para ajudar famílias nesse processo, existem vídeos explicativos sobre a APLV que traduzem o linguajar médico e mostram, de forma visual, como identificar sintomas, buscar diagnóstico e lidar com o dia a dia alimentar. Eles são especialmente úteis para quem está iniciando a investigação e precisa de uma base sólida, mas acessível.
Rotina, alimentação e planejamento: tudo muda (e se adapta)
Uma das maiores mudanças após o diagnóstico é no cardápio. Ler rótulos se torna rotina. Descobrir nomes ocultos de alérgenos (como “caseinato” no caso do leite) vira habilidade essencial. Mas aos poucos, a família aprende a cozinhar diferente, a confiar em marcas seguras e a adaptar receitas.
É importante também educar quem convive com a criança: avós, professores, cuidadores e coleguinhas. Comunicação clara evita acidentes e constrói uma rede de apoio fundamental.
Escola, festas e vida social com alergia alimentar
Sim, dá para viver bem — e com segurança — mesmo com alergia alimentar. Mas requer conversa. Antes de matricular a criança, converse com a escola sobre protocolos de segurança, rotinas na hora do lanche e acesso a medicamentos como a adrenalina auto injetável (se for o caso).
Em festas, leve a própria comida do seu filho, ensine-o (desde cedo, de forma lúdica) a reconhecer o que pode ou não comer e sempre tenha um plano de ação. Aos poucos, a criança aprende a se proteger — e isso é poderoso.
A alergia alimentar traz desafios, mas também desperta uma nova consciência: sobre o que se consome, sobre cuidado coletivo e sobre o poder de estar bem-informado. Com o tempo, o que parecia impossível vira rotina — e a criança cresce com saúde, segurança e autonomia.
Referências:
BRASIL. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Alergia alimentar: o desafio diário que exige atenção e apoio especializado. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/alergia-alimentar-o-desafio-diario-que-exige-atencao-e-apoio-especializado.
ASBAI – Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Alergia alimentar: perguntas e respostas. São Paulo: ASBAI, 2017. Disponível em: https://asbai.org.br/alergia-alimentar-perguntas-e-respostas/.
ROCHA FILHO, Wilson; SCALCO, Mariana Faria; PINTO, Jorge Andrade. Alergia à proteína do leite de vaca. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 24, n. 3, p. 359–368, 2014. Disponível em: https://www.rmmg.org/artigo/detalhes/1658.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Alergia ao leite de vaca. Rio de Janeiro: SBP, jan. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/doencas/alergia-ao-leite-de-vaca/.